Foi
preciso todo um ritual pra tirar você de mim. Comecei pelas nossas
fotos, lembra delas? A gente juntos, sorrindo pro mundo, felizes, eu
sempre enlaçada pelos seus braços, você sempre protetor com um ar de
mistério. E tinha aquela outra só sua, que eu tirei quando você estava
distraído. Sempre amei aquela foto, você tava lindo admirando o
pôr-do-sol, enquanto eu admirava você. Joguei fora todas
as nossas fotos, botei fogo em tudo que fosse palpável e me mostrasse
os meus melhores momentos com você. Em seguida fui atrás de todos os
bilhetinhos que você me enviava. Li, reli, e tentei imaginar se algum
dia todos aqueles “eu te amo” haviam sido verdadeiros, se por um acaso
você realmente sentiu amor por mim, ou tudo não passou de uma atração.
Joguei suas palavras vazias e falsas promessas na primeira lixeira que
achei, uma lixeira pública, de uma rua qualquer, para eu não correr
risco de voltar atrás e recuperar todos os seus recados. Depois foi a
vez do celular, comecei pelas nossas mensagens, nossas conversas, mas
dessa vez eu decidi deletar sem ler, já não tinha saúde mental para
reviver cada momento, lembrar de todas as sensações que eu sentia quando
via que era uma mensagem sua de boa noite, ou coisa do tipo. Aproveitei
e deletei o seu número também, não quero estar mexendo na minha agenda
telefônica e de repente me deparar com o seu número, e ter que encarar
de frente a vontade de te ligar, só para ouvir sua voz, perguntar como
você ta, essas coisas banais. Dei um fim em tudo o que me lembrava você,
deletei, rasguei, joguei fora, coloquei fogo no nosso passado. Li em um
certo lugar a seguinte frase: “Longe dos olhos, longe do coração”.
Então comecei a te evitar também, parei de visitar seu perfil nas redes
sociais, parei de frequentar qualquer lugar que pudesse colocar em risco
o meu plano de te evitar, de te esquecer. Não passei mais em frente a
tua casa. Parei de perguntar de você aos seus amigos. Controlei minha
vontade de tentar imaginar o que você estava fazendo. Controlei o
impulso de passar em frente ao seu trabalho. Me controlei por dentro,
repeti como um mantra até acreditar, que você é passado e não há mais
lugar para você no presente. Me controlei por fora, tentei não parecer
afetada quando me perguntavam de você, tentei manter a sanidade quando
te vi passar por mim. Com o tempo, todas essas mentiras viraram verdades
e eu realmente te esqueci, parei de me afetar com a sua presença ou a
falta dela. Com o tempo todas as lembranças se dissiparam, assim como o
sentimento que um dia foi exclusivamente seu. Foi difícil chegar a
plenitude, recuperar a minha paz que você fez questão de levar embora
quando decidiu partir. Demorei um certo tempo até me ver completamente
livre de você e seus encantos. Demorou, mas eu consegui. Hoje eu sou
livre. Livre de você, livre do meu passado. To limpa, como uma
dependente química que consegue largar o seu maior vício, que se afasta
das drogas porque já não tem condições físicas e nem morais para aceitar
o pouco que a doce sensação lhe traz em troca do muito que as consequências amargas levam. To limpa, recuperada, e o melhor de tudo:
to feliz!
Amanda Sanches
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