quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sobre amores que viciam


Foi preciso todo um ritual pra tirar você de mim. Comecei pelas nossas fotos, lembra delas? A gente juntos, sorrindo pro mundo, felizes, eu sempre enlaçada pelos seus braços, você sempre protetor com um ar de mistério. E tinha aquela outra só sua, que eu tirei quando você estava distraído. Sempre amei aquela foto, você tava lindo admirando o pôr-do-sol, enquanto eu admirava você. Joguei fora todas as nossas fotos, botei fogo em tudo que fosse palpável e me mostrasse os meus melhores momentos com você. Em seguida fui atrás de todos os bilhetinhos que você me enviava. Li, reli, e tentei imaginar se algum dia todos aqueles “eu te amo” haviam sido verdadeiros, se por um acaso você realmente sentiu amor por mim, ou tudo não passou de uma atração. Joguei suas palavras vazias e falsas promessas na primeira lixeira que achei, uma lixeira pública, de uma rua qualquer, para eu não correr risco de voltar atrás e recuperar todos os seus recados. Depois foi a vez do celular, comecei pelas nossas mensagens, nossas conversas, mas dessa vez eu decidi deletar sem ler, já não tinha saúde mental para reviver cada momento, lembrar de todas as sensações que eu sentia quando via que era uma mensagem sua de boa noite, ou coisa do tipo. Aproveitei e deletei o seu número também, não quero estar mexendo na minha agenda telefônica e de repente me deparar com o seu número, e ter que encarar de frente a vontade de te ligar, só para ouvir sua voz, perguntar como você ta, essas coisas banais. Dei um fim em tudo o que me lembrava você, deletei, rasguei, joguei fora, coloquei fogo no nosso passado. Li em um certo lugar a seguinte frase: “Longe dos olhos, longe do coração”. Então comecei a te evitar também, parei de visitar seu perfil nas redes sociais, parei de frequentar qualquer lugar que pudesse colocar em risco o meu plano de te evitar, de te esquecer. Não passei mais em frente a tua casa. Parei de perguntar de você aos seus amigos. Controlei minha vontade de tentar imaginar o que você estava fazendo. Controlei o impulso de passar em frente ao seu trabalho. Me controlei por dentro, repeti como um mantra até acreditar, que você é passado e não há mais lugar para você no presente. Me controlei por fora, tentei não parecer afetada quando me perguntavam de você, tentei manter a sanidade quando te vi passar por mim. Com o tempo, todas essas mentiras viraram verdades e eu realmente te esqueci, parei de me afetar com a sua presença ou a falta dela. Com o tempo todas as lembranças se dissiparam, assim como o sentimento que um dia foi exclusivamente seu. Foi difícil chegar a plenitude, recuperar a minha paz que você fez questão de levar embora quando decidiu partir. Demorei um certo tempo até me ver completamente livre de você e seus encantos. Demorou, mas eu consegui. Hoje eu sou livre. Livre de você, livre do meu passado. To limpa, como uma dependente química que consegue largar o seu maior vício, que se afasta das drogas porque já não tem condições físicas e nem morais para aceitar o pouco que a doce sensação lhe traz em troca do muito que as consequências amargas levam. To limpa, recuperada, e o melhor de tudo: to feliz!
Amanda Sanches

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